Delta Q
CCP_BriefAberto
_Ilustração
2020
AD: João Ramos Dias
Este cheiro, de um castanho intenso, cresceu connosco, enquanto nos sujávamos a brincar na lama, nos dias chuvosos, o café, dessa mesma cor, aquecia-nos e com ele crescemos. Nas viagens de família, o pai parava na bomba de gasolina, e lá íamos beber aquele café, tirado da máquina, com um gosto de aventura. E o que dizer sobre o café de saco, na casa da avó, acompanhado pela bolacha enterrada na chávena, a pingar doçura, ou mesmo o café com “cheirinho”, introduzido por um familiar mais velho, às escondidas das mães zelosas. E quando as tainadas da nossa juventude começam, o café é o último a vir para a mesa. Presente até ao presente. Naquele encontro, sem contar, o que dizemos primeiro: “Vamos tomar um café”? A entrevista de emprego, para pôr todos à vontade,: “deseja um café?”. O café está sempre lá, no nosso dia-a-dia. É tão nosso, tão português. Todos nós temos o nosso “momento café”. Através dessa ideia, o artista, recorrendo à banda desenhada, que gosta quase tanto como de café, recria em vários cenários esses momentos. Dando liberdade ao pensamento de quem observa os cartazes: é uma entrevista, um primeiro encontro? O fim de outros encontros? ou apenas aquele momento “relax”, a rodar a colher, dando voltas nessa cor quente, de um castanho fervente, enquanto se clareia a mente ou se mergulha a alma na espuma do nada. Com uma paleta colorida, um mix entre o traço sarrabiscado e as formas geométricas, nasce uma composição de fácil agrado ao olho, um cartaz para se ter na sala, na cozinha, algo para contemplar enquanto se leva a chicara à boca, a escaldar, e soprando,distraídos, nos contemplamos, com algo ou sem.